Qual o cenário atual sobre melhoramento genético de mudas clonais de mogno-africano no Brasil? Como a escolha entre muda clonal e seminal afeta a minha floresta?
Essas questões são comuns entre os interessados em cultivar mogno-africano. Para esclarecer essas dúvidas, a Associação Brasileira de Produtores de Mogno Africano (ABPMA) convocou um time de pesquisadores em silvicultura e viveiristas para uma conversa rica sobre o tema, ocorrida no dia 26 de abril de 2021.
Participaram do encontro:
- Milton Frank, Especialista em khayas e Mediador da Roda de Conversa da ABPMA.
- Dr. Evandro Novaes, Engenheiro Florestal, Mestre em Genética e Melhoramento e PhD em Recursos Florestais.
- Teotônio Assis, Mestre em Genética e Melhoramento, Engenheiro Florestal e Consultor na Empresa Assistech.
- Jaldes Langer, Engenheiro Florestal da empresa Langermaz e Flora Sinop.
- Luciana Maluf, Administradora e Diretora do Viveiro Origem, especializado em mudas de mogno-africano.
- Patricia Alves Fonseca, Diretora Executiva da ABPMA.
O objetivo do bate-papo, além de mostrar ao produtor os fatores envolvidos na produção de uma muda de qualidade, fez parte da celebração dos 10 anos de existência da ABPMA.
A entidade visa fortalecer o mercado do mogno no Brasil e reforçar que, unindo planejamento e parcerias certas, a espécie é um ótimo investimento.
Por isso, fizemos um resumo da conversa com os principais pontos neste post. Confira!
O que significa clonar uma árvore?
Entender o processo de clonagem é um ponto importante para saber como essa técnica pode impactar a produtividade da sua floresta.
Segundo Teotônio Assis, clone é“… um conjunto de plantas propagadas vegetativamente oriundas de um indivíduo e têm como características serem geneticamente idênticas entre si e idênticas à árvore de origem”.
Ainda de acordo com Teotônio, uma árvore superior, através da clonagem, pode se transformar em uma floresta superior porque tem esse potencial, e a clonagem é uma técnica que cria milhares e milhares de cópias idênticas.
Assim, se você tem uma árvore superior e consegue clonar esta árvore, considerando que o clone cresça em um ambiente semelhante ao da árvore original e que não se cometa nenhum pecado fisiológico no meio do caminho, a tendência é que você transforme uma árvore superior em uma floresta superior.
Luciana Maluf, que é a proprietária do Viveiro Origem, complementou os ensinamentos compartilhados por Teotônio, apresentando o conceito de família clonal, na qual a base genética não é única, como acontece no caso dos clones registrados e protegidos (conhecidos como cultivares).
Desde a criação do Viveiro Origem, em 2002, foram estabelecidos jardins clonais com mudas selecionadas e, atualmente, o Viveiro conta com mais de 60 mil matrizes produtivas.
Estas matrizes vêm produzindo mudas por meio da técnica de clonagem (reprodução assexuada por meio de estaquia) e estas mudas têm demonstrado um resultado superior no campo se comparadas às mudas seminais.
Os resultados obtidos serão melhor explicados abaixo nos exemplos de iniciativas existentes para o mogno-africano no Brasil relacionados ao processo de melhoramento de mudas.
Existem riscos na clonagem de mudas de mogno-africano?
Assim como qualquer ciência, existem margens de risco no processo de clonagem das mudas. Teotônio, especialista no assunto, explica que:
“Os riscos são inerentes de qualquer processo onde você reduz muito a base genética. Então, uma floresta de um clone só é uma floresta de uma árvore só. Então, se essa árvore, por algum efeito do ambiente ou de pragas e de doenças vier a ser afetada, a floresta inteira será”.
Quando o plantio é por semente, existe uma variabilidade genética incorporada neste material.
Apesar de que, do ponto de vista biológico, exista esta fragilidade teórica, no Brasil já temos experiência há mais de 40 anos fazendo clones e até hoje nunca aconteceu uma catástrofe que pudesse ser atribuída exclusivamente ao uso da clonagem.
Ainda segundo Teotônio, a clonagem foi capaz de elevar a produtividade volumétrica das plantações de eucalipto no Brasil de 8m3 por hectare/ano na década de 70/80 para mais de 41 m3 por hectare/ano em 2010. Um resultado 5 vezes superior à produtividade inicial.
Os riscos existem, mas são pequenos. Se os processos de clonagem e testagem forem feitos adequadamente, a tendência é que a técnica funcione da mesma maneira para o mogno-africano.
O professor Evandro complementou a reflexão, alertando para o balanço que se deve fazer entre ganho e risco, já que a clonagem tende a gerar muito ganho, mas, também, pode aumentar um pouco os riscos, à medida que diminui a variabilidade genética.
Em sua opinião, nenhum produtor deveria plantar um único clone, mas sim clones variados até que estes sejam exaustivamente testados e comprovados.
Como está a pesquisa de melhoramento genético para o mogno-africano?
O cultivo das espécies khayas no Brasil ainda é algo muito recente. Conforme palavras do próprio professor Evandro, ainda estamos engatinhando em termos de melhoramento genético para o mogno-africano no Brasil.
Além das pesquisas ainda estarem em fases iniciais, o professor pontuou muito bem a questão climática que envolve todos os testes de melhoramento genético.
Por mais que se diversifique as áreas para os testes de clonagem e se faça o plantio em diferentes regiões do país, o clima influencia muito nos resultados e é um fator imprevisível.
Ainda assim, os produtores podem se manter otimistas sobre o melhoramento genético. Pesquisas e testes em relação à qualidade das mudas e também a clonagem de árvores superiores têm sido feitos em várias partes do país.
Abaixo, citaremos os exemplos que se destacam no mercado e que foram citados na “Roda de Conversa”:
Minas Gerais
Em Minas Gerais, o trabalho do Viveiro Origem, com início em 2012, tem sido importante devido ao seu investimento em pesquisa. Foi criado um laboratório de biotecnologia dentro do viveiro para desenvolver estudos que visam melhorar a qualidade das mudas entregues ao produtor.
Hoje, o viveiro conta com mais de 60 mil matrizes escolhidas por critérios rigorosos de qualidade da origem e características fenotípicas das mudas. Estas matrizes (família clonal) vêm produzindo mudas por meio da técnica de clonagem.
Mesmo que estas matrizes ainda não sejam registradas e de um clone único, este meio de propagação já vem demonstrando um resultado superior e positivo em campo.
Registros feitos por meio de inventários em locais nos quais foram plantadas mudas seminais e mudas clonais (clones multifamiliares) apresentaram os seguintes resultados, cuja divulgação foi permitida pelo proprietário das duas fazendas, o empresário Ricardo Tavares:
- Fazenda Atlântica: localizada em Pirapora/MG, com plantio irrigado e com quase 10 anos. Neste plantio, as mudas clonais tiveram um ganho superior em termo de DAP e fuste se comparadas às mudas seminais plantadas na mesma época. O volume do ganho foi superior em quase 17%.
- Fazenda Florestas da Canastra: localizada em São Roque de Minas/MG, com plantio não irrigado e com 1 ano e meio. Neste plantio de 40 hectares, feito com mudas do Viveiro Origem, as mudas clonais apresentaram um DAP 23% e altura 9,5% superiores em comparação às mudas seminais.
Esta superioridade pode ser justificada por meio dos resultados de um trabalho de mestrado desenvolvido pela aluna Natallia Campelo, orientanda da Dra. Gracielle Costa, que é pesquisadora responsável pelo Laboratório do Viveiro Origem e coordenadora do Mestrado em Biotecnologia do UNIFEMM em Sete Lagoas/MG.
Este estudo demonstrou que as mudas de mogno-africano feitas pela técnica de clonagem apresentam volume superior de sistema radicular em 25% se comparados às mudas seminais. Este trabalho de mestrado será em breve publicado.
Outra justificativa para a superioridade em campo seria a idade genética das matrizes clonais, que dariam mais maturidade às plantas em campo.
Goiânia
O professor Evandro desenvolveu um trabalho na área de clonagem com o Viveiro Mudas Nobres, em Goiânia. Na ocasião, foi realizada uma visita nas fazendas mais antigas de mogno-africano no Brasil e avaliou-se a altura e diâmetro de mais de 4 mil árvores.
Desse volume, foram selecionadas as 53 melhores árvores em termos de diâmetro, altura de fuste, além de outros aspectos que indicassem que esses indivíduos estavam saudáveis.
Essas árvores foram clonadas e instalaram-se os primeiros testes clonais em fazendas em diferentes regiões do país. Os resultados iniciais são muito bons e em breve será publicado um artigo a respeito. Estes testes têm 4 anos.
Mato Grosso
Jaldes Langer, Engenheiro Florestal da empresa Langermaz e Flora Sinop, contou ter iniciado seu trabalho com 200 sementes obtidas no Pará, na sede da Embrapa em 1998.
Estas árvores plantadas foram monitoradas e as melhores matrizes foram selecionadas. Destas árvores superiores foram produzidas mudas de sementes e, em 2016, iniciou-se um processo de coleta de material apical destas matrizes para introdução no viveiro.
Este material foi plantado em 4 repetições. Ainda não se tem o resultado definitivo, pois é um trabalho complexo.
“A passos lentos, mas com segurança e profissionalismo, o Brasil todo está hoje gostando da cultura do mogno-africano. Eu acredito que nós teremos bons frutos a médio e longo prazo, pois estamos fazendo o trabalho de casa muito bem-feito e embasado, com parcerias com empresas e universidades. Estamos no caminho certo”, completou Jaldes em seu depoimento
São Paulo
Outra iniciativa, reportada pelo Professor Evandro Novaes, foi iniciada pela empresa Futuro Florestal com o mogno da espécie khaya senegalensis, na qual foram importadas da África 30 progênies de 3 locais diferentes que estão sendo testadas em 7 regiões distintas do Brasil.
Como escolher a muda ideal de mogno-africano?
É possível encontrar mudas clonais de diferentes valores no mercado. Os viveiristas presentes na Roda de Conversa ressaltam que existe um trabalho muito complexo e de alto investimento no manejo e qualidade das mudas dentro do viveiro, que, obviamente, reflete no preço final da venda.
Segundo informações passadas por Luciana Maluf, “um processo sério envolve custo e manejo desde a nutrição do jardim clonal, passando pela composição e volume do substrato que não pode ser qualquer um. A boa muda para chegar no ponto ideal tem que ter espaço de viveiro para mantê-las segregadas. São vários fatores que a gente analisa para, na hora de fazer a expedição da muda, ter um critério rigorosíssimo de qualidade”.
A estimativa é de 6 meses a 1 ano para que uma muda de mogno-africano atinja a boa formação e maturidade para ir ao campo.
Por esse motivo, o preço não pode ser o único fator para determinar a sua decisão de compra. Desenvolver mudas clonais e seminais de qualidade envolve um trabalho de alta complexidade.
Como pode ser definida a qualidade genética superior de uma árvore?
Muitas vezes o produtor confunde a aparência com a qualidade genética da árvore.
Quando se vê uma árvore forte, bonita, com bom DAP, fuste e livre de doenças no campo automaticamente associamos isso a uma boa qualidade genética.
No entanto, essas características não são garantia de que, ao se plantar clones dessa árvore, você terá uma floresta de sucesso. A superioridade pode ser decorrente de fatores genéticos, mas também de fatores externos.
Segundo o professor Evandro Novaes, “o que vemos externamente em uma árvore não é a sua condição pura e simplesmente genética, mas a expressão da sua genética influenciada pelo ambiente. Então, olhando uma única árvore fica difícil saber se aquela superioridade é de natureza genética e se será transmitido para as próximas gerações. A superioridade ambiental dependerá de você replicar aquele ambiente e isso só se consegue avaliar com experimentação”.
Considerações finais
Todo processo de clonagem envolve muita pesquisa e testes. Considerando que o mogno-africano é uma cultura recente no país, é de se esperar que se leve tempo para amadurecer a técnica.
Conforme bem pontuado pelo Mestre em genética, Teotônio Assis, para o mogno, em uma projeção de cenário mais consercador, para se definir o clone partindo-se de matrizes escolhidas seriam necessários 42 anos para finalizar esse trabalho.
Existe a possibilidade de redução com seleções precoces, como foi feito para o eucalipto, que poderia reduzir este prazo para 22 anos.
Como exemplo, ele citou que para o eucalipto, menos de 1% das matrizes superiores selecionadas se transformam em clones recomendados. Problemas na propagação podem atrapalhar o processo de clonagem.
Segundo suas palavras, “como a questão é muito nova em mogno-africano teremos que ir aprendendo aos poucos. Não existe nenhuma regra pronta. O que podemos afirmar é que todas as espécies lenhosas sofrem o efeito da maturação e da juvenilidade. A juvenilidade é fundamental para que se possa transmitir a superioridade da árvore para o clone”.
Os participantes finalizaram a conversa entrando em um consenso geral sobre o futuro do mogno-africano no Brasil: de que é um caminho que ainda está começando, mas com grandes perspectivas de sucesso.
O otimismo é muito pautado pelas boas iniciativas promovidas pela ABPMA na construção e condução de parcerias que incentivam a disseminação de informação de qualidade, de valorização da pesquisa e de muita troca de conhecimento entre produtores de mogno-africano em todo país.
O mercado do mogno tem um potencial enorme, mas ficou claro que só dará bons frutos se for feito um trabalho de equipe. Como bem lembrou Luciana Maluf, no encerramento da conversa, “Se quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá em grupo”.
Com isso, terminamos o nosso resumo. Para mais informações e detalhes sobre o futuro do melhoramento genético do mogno-africano vale muito à pena conferir o bate-papo completo, disponível abaixo:
Ainda têm dúvidas sobre como comprar uma muda de qualidade? Entre em contato com o Viveiro Origem!