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Desde que o mogno africano começou a ser cultivado no Brasil, alguns agentes causadores de doenças foram se adaptando a esta nova espécie exótica. Por isso, quem tem interesse em investir no plantio do mogno africano precisa estar atento às doenças e insetos que podem causar danos às árvores e cuidar para minimizar ou evitar estes danos. 

 

Vale ressaltar que, em geral, os relatos de pragas que prejudicam cultivos de espécies de mogno africano no país ainda são, relativamente, poucos. Mesmo assim, o monitoramento dos insetos presentes no plantio é fundamental para acompanhar o crescimento do número de agentes capazes de afetar a espécie.

 

Com base nos capítulos escritos por Edson Luiz Furtado, Lucas Antonio Benso, Alexandre Mehl Lunz e Cristiane Aparecida Fioravante Reis, do livro Mogno-africano (Khaya spp.): atualidades e perspectivas do cultivo no Brasil, publicado pela Embrapa em 2019, vamos explicar, neste artigo, quais os sintomas e as medidas de manejo necessárias para lidar com as pragas do mogno detectadas no Brasil. 

 

Problemas causados por fungos

 

  • Podridão Branca ou murcha letal

Esta doença é causada por um fungo que habita as florestas brasileiras, por isso, tem alta incidência em plantios de mogno feitos em locais anteriormente cobertos por florestas. Solos sujeitos ao encharcamento das raízes também facilitam o processo infeccioso.


Ele causa o
amarelecimento de toda a copa da árvore, seguido da sua murcha e seca. As raízes adquirem coloração esbranquiçada e amarelada. Para controlar esta praga, é necessário arrancar e queimar as partes das raízes afetadas e tratar o local com fungicida. Para prevenir, é importante evitar o encharcamento do solo, facilitando a evaporação e a drenagem da água nas áreas de plantio.

 

  • Cancro do córtex 

 

Este fungo forma colônias, inicialmente brancas, mas que se tornam pretas com o tempo, nos troncos do mogno africano. As colônias podem causar lesões nas cascas da árvore e até grandes áreas de descolamento e necrose. Para controlar a praga, os tecidos doentes precisam ser raspados e a área deve ser tratada com fungicida ou com produtos diluídos à base de triazol+estrubirulina. 

 

  • Rubelose ou mal rosado

 

Causada por um fungo que gera lesões de coloração rosada. Por baixo da crosta rosa, acontecem sulcos e rachaduras nos galhos e troncos doentes. O controle desta praga é feito por meio da poda dos ramos afetados ou da retirada das partes afetadas da casca. Em seguida, aplica-se uma mistura de tinta látex, triazol e estrubirulina para selar os ferimentos. 

 

  • Murcha de ceratocystis

 

Esta doença é causada por um fungo que acomete ferimentos abertos no processo de poda das árvores. Ele obstrui os vasos de seiva da planta, provocando a murcha e seca da parte aérea dos indivíduos em níveis avançados da doença. Outro sintoma é o vazamento da seiva por rachaduras nos troncos afetados.

 

Ainda não foi bem estudado o uso do controle químico para esta doença. Por isso, a melhor forma de controle é a remoção e destruição das árvores doentes, para impedir que elas transmitam a infecção às árvores vizinhas. Para prevenir a doença, é importante manter os instrumentos de poda higienizados e aplicar fungicidas em ferimentos abertos, para evitar a entrada do fungo. 

 

  • Mancha areolada

 

O fungo responsável por esta doença causa manchas arredondadas nas folhas jovens do mogno. As manchas têm centro esbranquiçado e bordas cor de vinho, mas podem se tornar amarronzadas e necróticas com o amadurecimento da folhagem. Para plantas em fase de viveiro, é possível tratar com a aplicação de fungicidas que contenham Pencycuron, quinzenalmente. 

 

  • Mancha foliar de Cylindrocladium

 

Este fungo causa lesões necróticas marrom-escuras em folhas de todas as idades, mas principalmente nas mais jovens. As folhas não caem com facilidade. Permanecendo na planta, elas geram novas infecções. Não existem recomendações de manejo dessa doença, mas ela pode ser evitada com a higienização dos insumos e equipamentos. 

 

  • Mancha alvo

 

As manchas causadas pelo fungo nesta doença são escuras, com halo púrpura e centro mais claro. Elas podem causar a queda das folhas afetadas. Também não existem recomendações de tratamento específicas para o mogno africano, mas para outras plantas, são recomendadas pulverizações de fungicidas.

 

  • Broca do ponteiro

 

Este inseto foi o responsável pela inviabilidade de monocultivos comerciais do mogno brasileiro no país. Foi essa limitação que motivou a introdução de espécies africanas do mogno por aqui. No entanto, já existem alguns relatos da incidência desta praga em espécies do mogno africano também. Por isso, vale ressaltar que a crença de que a broca do ponteiro não afeta as espécies exóticas é um mito. 

 

As larvas atacam a região apical das árvores, causando uma ramificação excessiva e a depreciação da madeira ou a mortalidade da planta. Ela também causa danos em frutos e sementes, impedindo a produção de mudas a partir do indivíduo afetado. Técnicas como o sombreamento das árvores, o plantio misto e a remoção de rebentos laterais podem reduzir os danos.

 

  • Mosca negra do citros

 

Este inseto suga a seiva de folhas novas das árvores, enfraquecendo a planta. Neste processo, a mosca ainda pode transmitir fungos para o mogno, e a combinação dos dois agentes pode causar uma redução no crescimento das plantas mais jovens, o que aumenta o tempo de corte da árvore. Ainda não há estudos que detalham o combate desta praga no mogno africano. 

 

  • Broca do alburno

 

As larvas da broca do alburno constroem galerias no tronco das árvores, o que prejudica a futura venda da madeira. As perfurações enfraquecem os troncos, por isso, eles ficam mais suscetíveis a quebras causadas por ventos fortes. Também não há estudos que detalham o combate desta praga, por enquanto.

 

  • Formiga cortadeira

 

 Esta formiga pode fazer ninhos em plantações de mogno africano e cortar as folhas das árvores. Para combatê-las, pode-se usar iscas formicidas nas plantações. O ideal é começar com as práticas de controle antes mesmo do plantio e seguir fazendo vistorias frequentes à medida que as plantas se desenvolvem. 

 

  • Coleobrocas ou brocas do tronco

 

Esse tipo de inseto costuma atacar troncos de árvores mortas ou moribundas, mas já foram registrados casos em árvores saudáveis que passaram pela prática da desrama. As galerias feitas pelo inseto não só enfraquecem os troncos como permitem a penetração de um fungo manchador, o que pode prejudicar ainda mais a qualidade da madeira. 

 

Para combater essa praga, deve-se recolher do plantio e destruir todo o material vegetal proveniente da desrama, para evitar o aumento populacional das brocas. 

 

  • Cochonilhas

 

As cochonilhas são insetos que atacam folhas e ramos das plantas, causando a morte da gema apical e o corrugamento das folhas. Às vezes, podem interagir de forma simbiótica com formigas. Podem ser combatidas com aplicação de óleo mineral, piretróides e emulsificantes.

 

  • Psilídeos

 

São insetos semelhantes a pequenas cigarras que podem colaborar para a infecção por fungos no mogno africano, resultando em queda e escurecimento das folhas. Dependendo da espécie, podem se formar galhas nas folhas e na base de ramos novos, resultando em uma alta densidade de galhas, e pode ocorrer também retardo no crescimento das plantas.  

 

  • Gafanhotos

 

Os gafanhotos abrem orifícios nas folhas para botar seus ovos. Isso facilita com que as folhas quebrem, caem ou sequem. O resultado é um estresse pela perda de folhas e ramos, além de deformações na planta quando o ataque acontece na região apical, o que pode comprometer seu desenvolvimento retilíneo

 

Ao primeiro sinal de ataque, devem ser cortados e queimados os materiais vegetais com posturas de ovos, sejam folhas, ramos ou partes da região apical das árvores, quinzenalmente. 

 

  • Irapuá ou abelha-cachorro

 

Essas abelhas atacam brotações novas do mogno, causando a queda dos pecíolos, os pequenos caules que sustentam as folhas. A fotossíntese fica prejudicada, e o resultado pode ser a atrofia ou a superbrotação das plantas. 

 

Para controlar o problema, pode ser feito o remanejamento das colmeias localizadas próximas aos plantios. Para localizar a colônia, basta observar a direção do voo das abelhas. 

 

  • Brocas do pecíolo

 

Esses insetos também prejudicam o pecíolo das folhas do mogno, tornando-os escuros e quebradiços, em folhas de todas as idades. As folhas ficam murchas, secas e mais suscetíveis ao dano interno causado por um fungo simbionte, que chega até a planta carregado pelo inseto. É importante retirar e queimar as folhas danificadas pelo inseto e aplicar inseticida fosforado por meio de pulverizações para combater a praga.

A produção das mudas de mogno africano pode ser feita por processos distintos, resultando em mudas clonais ou seminais. Já explicamos aqui quais as diferenças na produção desses dois tipos de mudas. Neste texto, você vai entender as vantagens de cada tipo, para escolher o mais adequado para iniciar o seu plantio de mogno africano. 

Qual muda de mogno é mais barata?


O processo de produção da muda seminal é mais barato. Consequentemente, as
mudas seminais também costumam ter um valor mais baixo que as clonais, já que estas últimas requerem um processo mais complexo e caro para produção (seleção de matrizes para formação de jardim clonal, processo de estaqueamento, tempo de estufa, etc).

 

VÍDEO – Como identificar uma boa muda de mogno africano

 

Além de mais baratas, as mudas seminais podem ser um pouco mais resistentes nos primeiros dois anos de plantio, especialmente quando plantadas sem irrigação em áreas com baixo índice pluviométrico (chuva). 

Entretanto, na maioria das vezes, as sementes para a produção das mudas clonais são coletadas sem qualquer critério de seleção das árvores produtoras, com a coleta feita, indistintamente, das sementes caídas ao solo do plantio, sem que haja o conhecimento (controle algum de identificação) da planta que a produziu. Essa semente pode ter se originado das melhores ou das piores árvores do plantio. 

Além disso, é muito importante lembrar que cada semente vem sempre da combinação de duas árvores. Assim, mesmo que se conheça a planta mãe, não significa que as sementes carregarão as mesmas características genéticas daquela árvore. A “mãe” pode ser uma árvore modelo, mas o “pai” pode carregar defeitos graves que poderão se manifestar nas florestas plantadas com estas mudas seminais. 

Qual tipo de muda apresenta melhores resultados de crescimento?


Em termos de crescimento e incremento de madeira, inventários recentes têm demonstrado que as
mudas clonais têm proporcionado melhores resultados. Um recente inventário feito em um plantio em Minas Gerais comparou árvores seminais e clonais de 8 anos, plantadas na mesma época, e identificou um crescimento quase 22% superior das mudas clonais em termos de metros cúbicos de madeira por hectare. 

Comparando o diâmetro e a altura das árvores resultantes das mudas clonais e seminais, levantamentos demonstraram que as árvores clonais têm apresentado um ganho considerável na quantidade de madeira produzida para venda. Isso normalmente acontece nos clones devido à idade genética e processo de seleção das matrizes.

O melhor desenvolvimento de plantas clonais, em comparação às seminais, já foi atestado em estudos com várias espécies no Brasil. O mogno, apesar de ser uma cultura nova em nosso país, vem confirmando esta capacidade maior de desenvolvimento. Confira na íntegra como plantar uma muda de mogno africano.

 

comparativo de mudas clonais e seminais

Dados do inventário de 2019 da Fazenda Atlântica, que mostram a vantagem do clone em relação à muda de semente.


Resumindo: Mudas seminais podem ser mais baratas e apresentam maior resistência e rusticidade quando comparadas às mudas clonais, especialmente em regiões com baixo índice pluviométrico e sem sistema de irrigação. Já as mudas clonais apresentam maior incremento de madeira e, por serem um pouco mais sensíveis, devem merecer maior cuidado nos primeiros dois anos de plantio (inclusive quanto à necessidade de irrigação). 

Quais a principais diferenças entre as raízes de uma muda clonal e uma muda seminal?


As mudas oriundas de sementes possuem uma raiz principal, do tipo pivotante. Desta raiz principal é que se desenvolvem as raízes secundárias nas mudas seminais. Os clones, por não possuírem esta raiz pivotante, desenvolvem um sistema diferente, com mais raízes secundárias, proporcionando um maior volume radicular à planta.

Uma pergunta recorrente é a seguinte: a falta da raiz pivotante pode prejudicar a sustentação das árvores adultas de mogno e provocar tortuosidades e até mesmo o seu tombamento? 

 

A resposta é não! 

 

Tombamentos e tortuosidades ocorrem também em plantios de mudas seminais e são causados por vários fatores, como, por exemplo, ventos excessivos, conformação da árvore (copa grande e pesada para a estrutura), excesso ou falta de adubação e água, aspectos nutricionais da planta, qualidade e composição do solo, etc.   

Além disso, o mogno africano é uma árvore originária de solos pobres, que têm os nutrientes concentrados na porção superior. Suas raízes são capilarizadas e superficiais, não possuindo, mesmo em árvores adultas, raízes profundas no solo. 

 

A prova disto pode ser verificada neste registro de uma árvore de origem seminal, com mais de 20 anos, tombada nos jardins da Embrapa, no Pará, por causa de uma ventania. Veja, na foto abaixo, o tamanho do tronco desta árvore e a dimensão insignificante de sua raiz pivotante, que está sendo segurada na imagem

 

ávore seminal caida após ventania, com um grupo de homens ao lado

Árvore de origem seminal, com mais de 20 anos, tombada por ventania no Pará

Raiz mínima da árvore se contrasta com tamanho do seu tronco

Obviamente, esta raiz jamais conseguiria servir como sustentação de uma árvore que atinge, com facilidade, mais de 30 metros de altura na idade adulta. As raízes secundárias é que exercem o papel de sustentação do mogno.

VÍDEO: Entenda as diferenças entre mudas clonais e seminais na prática com a dra. Gracielle da Costa, pesquisadora do Viveiro Origem